sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Timor e a mulher de César

Do relato de imprensa da UNMIT publicado em 28FEV08:

"AFP-UNPol descobrem balas na residência do PM:
A Equipa de Investigação da Polícia Federal Australiana e a PNTL que estão a conduzir o exercício de reconstituição dos eventos de 11 de Fevereiro na residência do PM Xanana descobriram 16 balas no local. O Procurador-Geral da República (PGR) Longuinhos Monteiro disse que as balas serão enviadas para Darwin, Austrália para testes balísticos. O PGR Monteiro disse que o FBI foi excluído do exercício de reconstituição, mas que a Polícia Federal Australiana (AFP) tirou fotografias aéreas do sítio para ajudar a localizar os pontos de disparos."


Assim não vão lá!... Que me lembre, em todos os testemunhos sobre os incidentes que terão --- acredito que tenham mas esta é a linguagem mais apropriada quando estão a decorrer investigações sobre o assunto --- envolvido o Primeiro Ministro de Timor Leste, nunca foi referida a existência de disparos junto da/contra a casa do mesmo. As únicas referências que foram feitas (pelo próprio XG) foram as da existência de "fogo cerrado" (sic) contra as viaturas da sua comitiva quando a caminho de Dili.
Como é que aparecem agora estas balas? Certamente haverá uma explicação mas...

Num inquérito a uma situação destas pretende-se principalmente duas coisas:

a) em primeiro lugar descobrir a verdade; e

b) em segundo lugar (mas não menos importante) assegurar que ninguém, jamais (em francês! Ler "jamé" como o outro!... :-) ) --- i.e., agora e no futuro --- poderá, sequer, sonhar que o resultado das investigações não corresponde à verdade nua e crua.

Ora, ainda que acreditando que quem está a fazer a investigação são pessoas de idoneidade irrepreensível e que chegarão à verdade, a verdade --- desculpem a repetição... --- é que elas não estão em condições de assegurar o alcançar do segundo objectivo.
De facto, de uma forma ou de outra poder-se-á dizer que os dois intervenientes na reconstituição da cena e, até, o terceiro "pilar" da pesquisa (o FBI, que não participou) têm algum tipo de interesse no caso (porque não foi o FBI? Mesmo que não fossem lá fazer nada deveriam ter ido para não deixarem caraminholas na cabeça das pessoas). E mesmo que não tenham tal interesse, o pior é que as pessoas os vêm como tendo.
O erro foi --- creio que mais por falta de experiência do que por maldade maquiavélica --- ter envolvido estes intervenientes no processo, incluindo o FBI.
Recorde-se que num processo com algumas semelhanças embora com fim muito mais trágico, o governo do Paquistão não hesitou em convidar a Scotland Yard para investigar o atentado que vitimou Benazir Buttho. E com bons resultados, na medida em que ninguém se atreveu a colocar em causa as conclusões da investigação dos ingleses. É isso que é necessário em Timor.

O presente inquérito está, infelizmente e seja qual for o resultado, "ferido de morte" em relação a um dos seus objectivos mesmo que não o esteja em relação ao outro. E isso é terrível. É que ninguém se deve esquecer nunca que "à mulher de César não basta ser séria; é também preciso parece-lo". Infelizmente não é o que acontece no caso do inquérito em curso.
De facto, mesmo que se venha a descobrir a verdade verdadeira --- e até acredito que venha --- haverá sempre alguém, na rua, no remanso das suas casas ou entre as paredes dos gabinetes de quem manda ou mandará, que ficará com uma nesga de dúvida. É isso que não deve acontecer. NÃO PODE acontecer. A bem da Nação... :-)

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