sábado, 26 de janeiro de 2008

É o capitalismo financeiro (selvagem), estúpido!...

Pois é! Anda toda a gente muito preocupada com as maroteiras do BCP desde há alguns anos a esta parte. E todos se atiram a Víctor Constâncio como gato a bofe... (Gato? Porque não cão? Pressupostamente estes é que se lambem por um bom naco de carne...). Creio que sem razão.
De facto, acredito piamente nas explicações que ele deu na Assembleia da República sobre a forma de actuação do Banco de Portugal. E contrariamente aos outros não acho que tenha sido demasiado condescendente ou "distraída".
O problema é que a supervisão bancária, mesmo levada a sério --- como parece ser pelo BP, cumprindo as "melhores práticas" universais ---, não está (penso eu de que...) intrinsecamente pensada/organizada/preparada para fazer face a casos que, no fundo, são casos de polícia a que devem ser submetidos uns quantos malandrecos que têm a mania que são mais espertos que os outros.
A verdade é que o problema é do capitalismo financeiro tal como domina hoje o mundo.
Como os "espertalhões" que quiserem fazer maroteira estarão sempre um passo à frente das instituições que procuram remediar (infelizmente mais que prevenir...) as situações, está aberto o caminho para casos como este, quase sempre utilizando os famosos "paraísos fiscais" onde tudo se faz sem qualquer controlo. Calculo quantos milhares, dezenas de milhares de casos destes não existirão por esse mundo fora, com passagem obrigatória pelas ilhas Caimão e semelhantes!...
Voltando às declarações de VC, notei particularmente o seu sentido pedagógico ao explicar que a função dos Bancos Centrais é, fundamentalmente, proteger o sistema financeiro entendido principalmente do lado dos depositantes: é preciso, acima de tudo, que não haja falências que possam pôr em causa a estabilidade do sistema, levando a uma corrida aos bancos para levantar dinheiro por receio que estes não tenham "encaixe" suficiente para devolver todo o dinheiro a todos os seus depositantes.
Cabe a instituições como a CMVM proteger os interesses dos accionistas (nomeadamente dos pequenos mas não só).
A questão que se pode colocar é: e quem protege as pessoas na sua vertente de "consumidores" de produtos financeiros, sejam eles depósitos, aumentos de capital como forma de obter maiores ganhos que os juros pagos pelo sistema financeiro ou outros? Pois, aí a coisa parece mais complicada e talvez se tenha de ir mais longe do que se foi até agora nesta perspectiva. Então sim, o "tripé" (investidores, depositantes, consumidores) estará completo, reforçando-se os três pés uns aos outros. Só com dois pés vai ser sempre difícil "segurar" os malandrecos.
Note-se que reconheço que os "consumidores" no sector financeiro podem ser simultaneamente investidores e depositantes, não facilitando as coisas.

Uma última palavra sobre o BCP: quem se lembrar da euforia da subida das suas cotações há algum tempo atrás, antes do aumento de capital, não pode deixar de reconhecer --- entrava pelos olhos dentro... --- que estava a haver manipulação do mercado, "puxando" as cotações para cima, até ao limite que a especulação permitia, a fim de vender, sabe-se agora mas já se desconfiava na altura, "gato por lebre".
É pena que na ocasião não tivesse aparecido ninguém com voz suficientemente forte para chamar os bois pelos nomes... Aí está um bom exemplo do que poderia ser a actividade de defesa do "consumidor" neste domínio que, naturalmente, se cruza fortemente com a da CMVM. Entendam-se!

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