sábado, 8 de março de 2008

Mãe, mulher, mulher timorense

Hoje é o Dia Internacional da Mulher e se a minha mãe fosse viva faria hoje anos! Sei que não foi por causa do seu aniversário que este dia foi escolhido para homenagear as mulheres... mas para mim é como se fosse. A cada um a sua mentirinha...
E ao lembrar-me da minha mãe ('tá quieta, lágrima!...) lembro-me também das mães de Timor e, em geral, das mulheres timorenses, essas grandes heroínas, a maior parte anónimas, da resistência e da luta pela independência ao sofrerem o que sofreram no corpo e na alma (porque não ficaste onde estavas, lágrima?!...) ao verem os seus filhos "triturados" pelo monstro da repressão indonésia.
Que todas as outras me perdoem --- principalmente as que sofreram na carne ainda mais que ela --- mas para mim há uma que será sempre a "mãe", a "mulher" timorense: aquela a quem eu costumo chamar "senhora professora", a Olandina Caeiro.
Ela recusa sempre o "epíteto" mas eu insisto: filho e neto de professores do ensino primário, habituei-me a ver nestes uma referência. E professor uma vez, professor se fica para toda a vida. Ser professor é uma função, não uma "mera" profissão. E a Olandina, agora com a sua ONG timorense, que outra coisa tem sido que professora toda a vida? Os livros é que são diferentes!
O meu primeiro encontro com ela marcou-me para sempre (lembras-te, António? Até lhe beijei as mãos!): a visão de uma mulher cheia de marcas de queimaduras de cigarros era coisa que até então me era completamente estranha e foi ao vê-la que passei a fazer dela a minha heroína "secreta"...
Em si, Olandina, no Dia da Mulher e no dos anos da minha mãe, presto a minha homenagem à Mulher Timorense! (bolas! Porque insistem em sair todas ao mesmo tempo?!... Não podiam ter ficado simplesmente a bailar onde estavam?!...)

4 comentários:

Anónimo disse...

MULHER TIMORENSE

Carregas no olhar

os azuis das montanhas

onde as lágrimas secaram

em esperas...

Esperas que regressem

aqueles que pereceram

às mãos dos ocupantes.

Sentada no tear

teces a tais

e silenciosa continuas a aguardar

que o teu filho, o teu pai, ou teu irmão

voltem para casa,

porque a Libertação (está a chegar) chegou!



Mulher timorense:

com muito carinho

ergues altares e acendes velas,

levas flores aos teus mortos:

ao Manelito,

ao Adelino,

e a tantos outros que pereceram...



Mas tu MULHER TIMORENSE

com tuas mãos, vais construir uma Nação!

Palmira Marques
Coimbra

José Gomes disse...

Bolas, amigo, isto doeu!... e eu que sou um sentimentalista nato, não admira que as lágrimas tenham bailado - não, os óculos é que embaciaram!! Este poema é lindíssimo e, se a Palmira Marques autorizar, vou lê-lo na próxima Noite de Poesia (em S. Mamede ou em Vermoim).
Meu amigo, sobre a ministra, tenho o mesmo exemplo em casa! Uma professora que se dedicou sempre à Escola e aos alunos, que sempre adorou a profissão e que agora anda a dizer que vai pedir a reforma e não vai esperar os anos para ter a reforma completa.
Um abraço

Anónimo disse...

Caro José Gomes:
Quero agradecer as palavras que me endereçou, mas o mérito é das mulheres de Timor e não meu!Considero que a "poesia" é universal, pertence a todos e passo-a para o papel porque não consigo guardá-la só para mim,por isso,pode lê-la sim,porque ela não me pertence!
Palmira marques

José Gomes disse...

Obrigado, Palmira Marques.
Espero já lê-la no próximo dia 21 de Março, na Noite de Poesia do Flor de Infesta.
Obrigado pelas suas palavras.
Jos´Gomes